terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Travessia-Acontecimento

"O acontecimento não é mais uma simples mudança de enquadramento, mas a destruição do enquadramento como tal." Zizek Slavoj*



As leituras e encontros que eu experimentei ao longo deste semestre com você mexeram muito comigo. O que fez esse sentimento surgir é incomensurável e não posso transcrever em palavras, mas algumas atividades e movimentos foram importantes para meu aproveitamento e prazer: O intenso calendário de leituras, o uso desta plataforma para criar textos e ler a produção dos colegas - semanalmente ou muitas vezes ao longo da semana - os encontros no LEPED, sempre hospitaleiro, acolhedor e gostoso, nossa professora - no melhor dos sentidos da palavra - e sua sincera e amorosa generosidade intelectual, os quitutes, o cafezinho, as pessoas. Felizmente, meu trabalho fora das atividades do grupo também me ajudou muito a fazer essa travessia.

Prendedor Livre. madeira (Peroba Rosa) 2017
Senti que certas ideias, certas palavras e perspectivas iam tingindo tudo em mim. Não como um tingimento homogêneo e permanente, como algo que marca, muito mais como um banho que limpa e arrasta para longe certos pesos e sujeiras (ora muito sutis, ora nem tanto). Como algo que borrou o que era talhado em pedra.

Alguma coisa foi destruída em mim: não posso mais proferir (sem danos) certas frases que outrora jurava em sangue; não posso mais cumprir certas tarefas escolares sem ter de fingir algo para não arrebentar delicados elos institucionais. Como educador, como professor, a escola que eu fantasiava, foi esmagada. Seus alicerces foram destruídos, sem que outros fossem postos no lugar. Talvez para Deleuze esteja aí o marco de passagem do pensamento sedentário para o pensamento nômade? A babelização, não como castigo divino, mas como estratégia para que seguíssemos o caminho da diferença? Destruir para emergir outra coisa. Não uma coisa renovada e sim, algo que parta de um outro arcabouço de ideias.
Ainda não sei ao certo o preço que irei pagar por isso, mas sinto-me agradecido.

Obrigado, seja lá a quem for que eu deva agradecer. :)

Só um acontecimento pode destruir uma fantasi
a, e em algum momento - neste ano - alguma coisa aconteceu comigo.
Mas não se trata aqui de abandonar a fantasia, de renegá-la, de praguejar sua existência, mas sim de atravessá-la revelando sua fragilidade, sua inconsistência.

Como pesquisador, avancei na percepção de meu objeto de pesquisa (na percepção de sua própria fragilidade). Percebi que muito do que eu pensava até aqui também são fantasias que precisam ser encaradas como tal, atravessadas para que não emparedem o que eu posso vir a produzir para  colaborar com os que desejam mudar a educação a favor de todos.


*Referência extra:

Zizek, Slavoj. Acontecimento. ed. Zahar 2017

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