terça-feira, 3 de outubro de 2017

Tiros em Las Vegas (E o vazio da subjetividade)

O pensamento ecológico é o germe para o surgimento do pensamento Ecosófico (Guatari) que considera as ecologias social e mental, além da ambiental. Da mesma maneira com que algas monstruosas se proliferam em águas doentes, as máquinas de signos inundam as telas de imagens e enunciados ‘degenerados’, achatando os sentidos, normalizando e laminando a subjetividade.
O capitalismo pós industrial trata de “descentrar seus focos de poder das estruturas de produção de bens e de serviços para as estruturas produtoras de signos, de sintaxe e de subjetividade, por intermédio, especialmente, do controle que exerce sobre a mídia, a publicidade, as sondagens...”
Assim, quando a informação toma o lugar da sensação, quando o excesso e a superficialidade passam a ser o modo de existir, há a degradação da experiência, entendida aqui como aquilo que nos passa de profundo e potente de transformação, aquilo que é ao mesmo tempo material e instrumento da liberação da subjetividade.
Degrada-se então a ecologia mental, matando a subjetividade por asfixia, como um peixe em águas contaminadas. Como nos diz o autor, “a época contemporânea, exacerbando a produção de bens materiais e imateriais em detrimento da consistência de Territórios existenciais individuais e de grupo, engendrou um imenso vazio na subjetividade que tende a se tornar cada vez mais absurda e sem recursos.”
Guatari aponta em sua ecosofia, as trincas por onde se infiltra a possível mudança: 1. O fim dos maniqueísmos; 2. O desenvolvimento das tecnologias e seu potencial uso não capitalístico; 3. A crescente produção de subjetividade "criacionista", individual e coletiva.
Sua ecosofia aponta ainda para a necessidade de “uma imensa reconstrução das engrenagens sociais” sobre os destroços do capitalismo pós industrial, reconstrução que “passa menos por reformas de cúpula, leis, decretos, programas burocráticos do que pela promoção de práticas inovadoras, pela disseminação de experiências alternativas, centradas no respeito à singularidade e no trabalho permanente de produção de subjetividade, que vai adquirindo autonomia e ao mesmo tempo se articulando ao resto da sociedade.”
Apesar das frestas, o autor não descarta um futuro de barbárie: As metralhadoras na janela do hotel não fazem sentido, não têm um significado. “Parecia um filme” relatou uma vítima. Das telas de Hollywood para o show de rua, uma desterritorialização da guerra “por demais brutal que destrói o Agenciamento de subjetivação” (p28).



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