terça-feira, 3 de outubro de 2017

A importância de estudar um caso



Com tais cartografias deveria suceder como na pintura ou na literatura, domínios no seio dos quais cada desempenho concreto tem a vocação de evoluir, inovar, inaugurar aberturas prospectivas, sem que seus autores possam se fazer valer de fundamentos teóricos assegurados pela autoridade de um grupo, de uma escola, de um conservatório ou de uma academia ... Work in progress! Fim dos catecismos psicanalíticos, comportamentalistas ou sistemistas. O povo "psi", para convergir nessa perspectiva com o mundo da arte, se vê intimado a se desfazer de seus aventais brancos, a começar por aqueles invisíveis que carrega na cabeça, em sua linguagem e em suas maneiras de ser.

Esta passagem me levou a uma boa reflexão sobre o trabalho que desenvolvo, numa ONG que apoia a inclusão de pessoas com deficiência intelectual. Sem usar estas palavras, vejo que o trabalho que faço lá é exatamente neste sentido: o de remover aventais brancos dos profissionais e suas cabeças.

Compartilho um exemplo. Certa vez convidei a fonoaudióloga a parar de utilizar o termo  "fonemas" para descrever suas ações ou avaliações. Ora, "fonemas" é algo que faz sentido à pessoa em atendimento, sua família, sua escola, sua empresa? Ou é mais uma palavra poderosa, acadêmica, repetida, que afasta meu olhar de um sujeito real, encarnado e mutável, que vive em contextos igualmente reais e mutáveis? Afinal, o que nos importa no dia-a-dia são as palavras que falamos, o sentido que carregam, e o uso que fazemos delas, ou os tais dos fonemas?

Antes de enviar esta postagem, perguntei a esta mesmo fono, agora passados alguns meses desde esta nossa conversa, quais impressões ela carregava da proposta. Alegremente, e com anuência dela, compartilho o que ela disse:
A forma como a criança se faz entender, a sua comunicação ou fala propriamente dita criança É o foco para se olhar e não o fonema... Falar partindo dessa visão, foi compartilhar um olhar que não é da fono, mas um olhar que é claro para qualquer pessoa compreender... A criança não é só um fonema. A criança é toda sua capacidade de comunicar-se com o mundo a sua maneira.

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