segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A nova velha escola



"Ser professor [...] não é um projeto individual, mas coletivo; não requer apenas o domínio de técnicas e conteúdos, mas envolve afetividade, valores, consciência política, visão de mundo; não é uma identidade fixa, imutável, estável, mas mutável, provisória, múltipla...[...] Ser professor portanto não é ter uma atividade fixa, repetitiva e única para todos os alunos. Ao contrário, exige que o mestre, além de ter o conhecimento sobre aquilo que ensina, deve ter plasticidade frente aos seus discípulos."


Essas passagens do texto me fizeram lembrar de um episódio ocorrido comigo em minha primeira experiência como professora, depois de formada, há alguns anos. Era uma escola que se dizia construtivista (só até aqui já dá medo), mas eu era recém formada atrás de sustento e, a escola, famosa por ser 'diferente'. O espaço era maravilhoso: muitas e muitas árvores, áreas e áreas de jardins e parquinhos com brinquedos de madeira. As salas eram aconchegantes e com um reduzido número de crianças. Era tudo perfeito e eu estava encantada. Mas eu devia saber que tanta coisa boa assim logo de cara devia ter algo estranho. E tinha. Se usava apostila e projetos prontos desde a educação infantil (eu estava com um 1 ano). A coordenadora era Hitler reincarnado. Os professores não eram convidados a pensar ou criar, apenas reproduzir. Os projetos e folhas de lição de casa eram feitos pela coordenação e enviados para nós. Tinha dias em que eu me sentia um robô. Passei a ficar muito mal e o único incentivo a ir trabalhar eram as minhas 10 crianças.Em uma bela sexta-feira ensolarada, depois de uma semana inteira de muita chuva, as crianças estavam exaustas e cansadas de ficar sentadas na sala. A atividade de ciências sobre 'insetos que eu conheço' não estava 'rolando'. Até que tive uma ideia. A porta de minha sala dava para um lindo jardim com muitas árvores. Fiz um convite: 'Meninos, porque não levamos nossos livros lá fora e nos sentamos no chão para fazer a atividade? Faz tempo que não vamos lá fora por conta da chuva. Quem sabe até não encontramos novos insetos?' Eles amaram. Apenas um disse que preferia apoiar o livo na mesa e não no chão. Como o jardim eram beeem pertinho da sala, me sentei na porta e, ao meu lado direto (sala de aula) sentei essa criança na mesa/cadeira. À minha esquerda (o jardim) sentaram ao chão os 9 restantes. Eu literalmente podia estender os dois braços e encostar nas 10 crianças. Estava tudo sobre controle e a aula fluiu. Foi ótimo. Do nada, escuto a coordenadora berrando, berrando muito, me perguntando o que estava acontecendo e o que eu achava que estava fazendo. Que aquilo era um absurdo e que eu levasse todos para dentro imediatamente. O meu menino mais novo ( diagnosticado com bipolaridade) chorou e disse que não queria. Que ele ficava mais calmo lá e estava aprendendo mais. Ela gritou, o pegou pelo braço e o arrastou até a sala. Foi horrível. Mais tarde, em sua sala, me passou um sermão e, depois, me cedeu a palavra. Eu disse que faria de novo, e que fiz o que sentia que era certo para minha turma naquele momento. Ela ficou irada e disse estar desapontada, pois esperava que seu tom enérgico fizesse com que eu abaixasse minha cabeça e concordasse que errei. Essas foram sua palavras, literalmente.


Foucault nunca foi tão atual.



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