sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O artista

“Cada aula é um quadro, uma obra de arte. Todas as pessoas que estão em uma aula pintam, juntas, uma tela única. Não há como voltar e retocá-la.”.
(MANTOAN, 01/11/2017)

           Esta frase foi dita pela professora Maria Teresa em uma das aulas do Seminário I – Escola para todos.  De todos os signos disparados por todos nós que compusemos essa disciplina, esta frase foi o que mais me tocou, pois me fez pensar sobre o artista que pinta a tela.
            Entender cada aula como uma composição única é, de certa maneira, negar as transcendências tão presentes no ato educativo e pensar em uma aula com uma finalidade em si mesma, uma obra de arte que é feita a partir de elementos imanentes, locais, contingentes. Nessa ótica, entendo que uma aula não pode ser considerada como um pré-requisito para as outras sob um caráter extensivo, mas intensivo, um verdadeiro encontro com aquilo que me afeta, me desequilibra, me provoca a pensar e criar, em um processo de individuação que não é individual, mas singular. Me provoca a ser um artista, que precisa da sua criação para lidar com o que lhe insulta.
            Nesta disciplina, caracterizada pela multiplicidade de conexões realizadas, misturei os textos lidos às minhas experiências pessoais, às informações trocadas, aos silêncios, dúvidas e problemas apontados, que, mais do que qualquer (pretensiosa) certeza, me possibilitou “pintar vários quadros”.  Na impossibilidade de retocá-los, produzi outros, sempre inéditos!
            Ao misturar as tintas, as cores e os rascunhos fui combinando os elementos e criando uma compreensão – modesta, relativa – para as nossas pesquisas, trabalhos e, sobretudo, para o que é um ensino para todos. A imprevisibilidade foi, para mim, a marca central dessa disciplina. Ao problematizarmos os textos, entendia que a aprendizagem realmente está na incerteza: na colocação de problemas, não na resposta; na busca, não no achado; no sentido (único) que atribuo ao que existe, não no significado (generalizado).
            Uma obra não invoca a necessidade de ser explicada, ela está além da tinta, do pincel... está no sentido dado por quem a compõe: se nada é feito individualmente, não há um sentido correto, transcendental, que encerra algo. Incluir todos os alunos, nessa perspectiva, pode ser entendido como algo que está além da ação pedagógica, do pragmatismo que busca a eficiência... está no sentido dado ao que se vive, a cada tela...
            Nesse tempo juntos, foi bom perceber que construímos relações marcadas pela diferença e que é a partir dessa diferença de todos nós que pudemos aprender e criar: criar telas que não exigem uma definição, uma explicação, uma interpretação, pois não há um sentido profundo a ser desvelado, mas criado por cada um: a criação é o trabalho do artista, não a interpretação.
            Os encontros com a professora Maria Teresa Mantoan, com os colegas de turma, com Deleuze, Guatarrí, Gallo, Marinho, Ranciére, Kohan, dentre tantos autores estudados, foram encontros com outros artistas que me ofereceram boas oportunidades para pensar sobre a tese que venho escrevendo e sobre a impossibilidade de definirmos o ensino, de controlar a aprendizagem, de explicar o que nos afeta e como nos afeta.  Não posso dizer o que aprendi, exatamente, neste tempo, porque não tenho total consciência disso neste momento, mas sei que os meus alunos também são artistas, que, como eu, não precisam explicar e comprovar as suas criações.  E o aprender está justamente na criação, na ressurgência, na transformação, na produção de uma obra de arte.

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