quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Considerações de uma experiência ainda em construção

Sempre que preciso escrever um texto me pego angustiada de início. Mas, não se assustem, é um tipo de agustia boa, se é que isso existe. A questão é que são tantas coisas a serem compartilhadas, a partir de minhas experiências, que sinto dificuldade em organizá-las. Começarei, então, por um acontecimento que me tocou profundamente, no qual me inspiro para a escrita deste texto.
Há algumas semanas atrás, a professora Mantoan compartilhou conosco uma carta na qual ela narra sua própria experiência enquanto professora. Me emocionei e solidarizei com sua fala, pois senti que não estava sozinha. Assim como ela, eu também não sabia o que fazer quando assumi minha primeira turma. Na época, e durante muito tempo, me sentia culpada e carreguei o fardo de acreditar ser uma má profissional. Lembro-me, em retrospectiva, de estar mais assustada do que as crianças. Elas conheciam a escola, estavam a vontade e sabiam como se comportar como alunas. Eu nunca havia sido professora e temia que elas sentissem as dúvidas e receios em meu olhar. Mas, para minha surpresa, as coisas foram simplesmente acontecendo e se encaixando naturalmente. Minha atuação na época, e eu só viria a descobrir isso alguns anos mais tarde, se baseava em tudo que aprendi e continuo aprendendo no Leped e com a professora Mantoan. Lembro-me de, muitas vezes, perder a hora a saída da escola por estar na roda conversando sobre a vida de cada uma das crianças. Fazia isso quando, na verdade, eu deveria estar corrigindo suas apostilas e elas em silêncio nas carteiras. Eu não conseguia acompanhar a apostila porque eu via que nada nela fazia sentido para as crianças. Elas estavam no começo do processo de alfabetização, muitas não sabiam todo o alfabeto ainda e tinham que se deparar, todo dia, com 5 apostilas diferentes lotadas de informações com um código do qual elas não tinham ideia de como decifrar. Elas não sabiam ler, mas precisavam responder por escrito as questões da apostila, pelo menos 10 por dia. Esses momentos se resumiam, basicamente, com as crianças copiando mecanicamente o que eu escrevia na lousa (e eu escrevia o que estava pronto na apostila do professor). Era doloroso e tiveram dias em que chorei para ir trabalhar. Eu não me encaixava. Mas, mesmo assim, eu procurava fazer de tudo para nadar contra a maré. Eu dava muitas aulas ao ar livre (a escola possuía uma área verde maravilhosa). Um dia, a coordenadora me pegou com a turma no jardim e eu, com 22 anos, levei uma bronca como nunca tinha levado na vida. Eu acabei saindo dessa 'escola' e fiquei muito mal. Cheguei a duvidar das minhas capacidades e acreditei não ser capaz de atuar como professora. Pronto, aqui retorna minha agonia. Eu não consigo começar mas também não consigo achar a hora de parar. Prometo que logo chegarei em minhsa considerações finais. Não digo que vou concluir o texto porque, em realidade, ainda não conclui nada. Minhas experiências continuam em aberto e, como diria Deleuze, estão em eterno devir.
Tanto, que não digo que eu estava errada ou certa em tudo naquela época, como não sei se estou certa ou errada hoje. Contudo, posso apenas afirmar a alegria e o alívio de ter encontrado em meu caminho pessoas como a professora Mantoan e os colegas do Leped. Todas as contribuições me fizeram perceber que meus instintos fazem, e sempre fizeram sentido. Hoje sei que estou no caminho certo. E, o melhor de tudo, é saber que não estou sozinha em minha caminhada.
Eu só tenho a agradecer por ter acreditado em mim.

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