"Foi uma cortina que me deu a primeira lição...” (PASOLINI)
Nosso encontro havia sido marcado para as nove horas.
Cheguei meia hora antes e ele já estava lá. Sorridente, dentes muito brancos, o
cabelo preto ainda mudando de cor, os olhos brilhantes e despreocupados
douravam um castanho denso. Olhos de uma certeza vaga, profunda, clara.
O professor chegou!, diz a anfitriã que nos recebe. Sorrio meio
sem graça com o título, e nos apresentamos formalmente. Estendo-lhe a mão e nos
cumprimentamos. Despedimos dos outros e agora estamos sós para começar a oficina
de madeira.
Ao longo de uma hora estaríamos ali, no silêncio de uma casa
estranha para nós dois; estávamos em uma varanda com pé direito alto, cadeiras
e mesas de trabalho e ferramentas. Um jardim recém construído, ainda sem o viço que sentimos diante de uma singularidade real. Um
jardim desses em que o paisagista dispõe as plantas arquitetonicamente: uma
fileira de coqueiros ali, arbustos alinhados ao longo do caminho, agrupamentos
de plantas feitos com o irresistível desejo de submeter as plantas e o terreno à maneira... soava como um deserto.
Mas certamente, Andres não se ocupava com essas ideias.
Acomodados e prontos, apanhei a caixa cheia de tocos de
madeira e pus sobre a mesa. Quando eu começava a fazer minha tradicional introdução
sobre aquele material e sobre o que iríamos fazer na oficina de madeira, Andres
agarrou a borda da caixa trazendo-a para mais perto de si, meteu as mãos sobre
os tocos arrastando uns pra lá outros pra cá e rapidamente pegou um pedaço
longo e estreito e um outro bem mais curto e largo. Olhou pra mim e disse: vou fazer
uma espada. Assim. E mostrou a combinação imaginada, imediatamente.
Ajudei com meus músculos nas tarefas mais duras e descobrimos juntos
um jeito de fixar a guarda da espada de brinquedo.
Andres não precisava de mim para aprender com aqueles tocos. E eu não precisava mais ser professor. Estávamos ali nós dois, banhados de infância.
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