sábado, 25 de novembro de 2017

Da hospitalidade em Babel

Ainda faz sentido dizer de ensinar e aprender? Se nossas palavras desmancham-se ao serem proferidas, ocas, esvaziadas e capturadas por forças agentes em nosso mundo pós-moderno? Ainda faz sentido dizer de ensinar e aprender? Do ensino como instalação de um signo, de um significado para o que se vê, para o que se sente, para o que podemos?

Os antagonismos e até a boa e velha dialética de outrora parecem não dar conta da realidade babélica, incomensurável, inominável - invisível  diferença -, não mais dão conta da impossibilidade do diálogo e da tradução.

A educação vista como aquilo que deve conservar o passado e garantir o futuro apodrece à luz do dia. A ideia de eficiência que vem da idolatria do mercado ou as ditas lutas revolucionárias à buscar o emparedamento dos sujeitos em uma aclamada identidade, arrastam, arrasam, massacram, aprisionam. E a singularidade do sujeito é rebocada para sempre.

A filosofia da diferença quando age no campo da educação, quando age no fazer do professor, aponta mais para uma vida vivida junto que para um momento delimitada e mapeado de uma "aula". Aponta mais para um estar com e para o outro, aponta para um estar ao lado, aponta para um oferecer hospitaleiro que não pergunta quem chega. Pois os nomes são invenções.

Larrosa nos fala sobre habitantes de Babel, exilados de si mesmos por já não terem uma língua própria, por sentirem-se estranhos à própria língua. Ao combate da Babel, o autor nos aponta um pensamento antibabélico que deseja reconquistar o paraíso da igualdade, que olha para a diferença como algo a ser suplantada, algo a ser capturada, vê a Babel como resultado de nosso pecado e castigo, nossa culpa.

Entretanto, se olharmos a Babel como algo a ser corrigido, não a vemos, e passamos a viver para conservar o passado e garantir o futuro, abandonando o presente, o singular, a incomensurável e inapreensível diferença da pessoa, dos fatos, dos lugares, das horas do dia e de nosso pensamento.

Leitura: Habitantes de Babel

Um comentário:

  1. Nada mais tenho a dizer de seu comentário, a não ser agradecê-lo pelo texto. Parabéns!

    ResponderExcluir