quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Diferença: Nem diálogo, nem tradução.

O professor-artista não busca o diálogo. Ao menos não o diálogo visto como o processo de interação que visa chegar a um consenso. Bem o contrário disso, porque muitas vezes o professor-artista busca a dissonância para fazer surgir dela algo novo para os seus olhos. Ele procura o entre-lugar onde ainda não há significados, "apenas hieroglifos" (Deleuze). Evita o diálogo envolto em relações de poder: O poder da pergunta, o poder da argumentação, o poder de quem fala sobre aquele que ouve.
O professor-artista também não se dá a traduções. Porque não há palavras comuns, porque não há transmissão possível do que ele vive e sente em seu trabalho.
Este professor-artista a que me refiro é o instrumento que inventei em minha tentativa de compreender a diferença tanto em meu ateliê, quanto nas salas de aula que frequento. Minha dança com os textos a mim oferecidos (as vezes dança, as vezes luta). Minha dança comigo-artista e comigo-professor.

Quando o professor-artista expõe seu trabalho, expõe a si mesmo. Sem tradução, sem diálogo. É quem vê o trabalho do professor-artista quem gera em si os significados, as fantasias, os entendimentos, as perguntas, os sentimentos que ocasionalmente podem (ou não) emergir daquele encontro.

Para usar os termos de Bhabha (em Macedo), tanto o professor quanto o artista lidam o tempo todo com as tensões entre a temporalidade continuista, institucional, pedagógica, ligada a história e a significados fixos fundados em relações estanques de poder (o forte x o fraco, a maioria x a minoria, o normal x o diferente) e a temporalidade performática, marginal, fronteiriça, criadora, ligada ao mundo real, ao momento-agora, desligada da rigidez da história.

Nesse regime tenso de trabalho, o professor-artista precisa construir sua própria máquina.

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