quinta-feira, 19 de outubro de 2017

"De perto ninguém é normal"

As tentativas de normalização da escola estão com os dias contados. Quem nos diz isso são as crianças, são os professores, são os seus gestores.
O enfadonho, o sem sentido, o sem graça, as irreais representações escolares são decadentes há séculos. Os esforços para o treino de "mentes sãs e corpos sãos" vazam por rachaduras abertas pelo tempo, pelas tecnologias, pelo fracasso das ideologias e seus métodos e são postos a luz do dia no rosto, no corpo e nas palavras da criança em seu devir na escola. "Qual foi a melhor parte do dia, hoje, filho?". "Foi o recreio, pai." "O que aconteceu de legal, hoje, filho?" "Nada, pai."
Porque a criança traz estas palavras frias em seu regresso do período escolar? Porque ela não manifesta o que certamente aconteceu de divertido, prazeroso e produtivo em seu dia?
A escola mostra um mundo à criança. Faz com que ela tenha uma certa experiência de si ao alinhá-la em carteiras, ao medir seu tempo e seu desempenho; impõe significados forjados em reuniões pedagógicas que nada tem a ver com a vida e o ser da criança. Mas ela foge. Sempre que possível, a criança foge. Seja na hora do recreio, na careta diante da foto (:)), seja na breve ausência do professor, a criança encontra o seu meio de Ser ali.
A curiosidade, a tenacidade de ver e agir o mundo segundo suas próprias regras não é facilmente soterrada. É preciso força, exercício de poder e constante manutenção do encarceramento do corpo e da mente.
Este modelo vai se desmilinguindo diante de todos nós. Mas porque não reagimos? Porque resistimos no desconfortável papel para o qual fomos designados (professores)?
Esquemas hierárquicos, benesses sociais e financeiras, acomodações sedentárias de todo tipo têm sido cultivadas na cultura escolar. Entretanto, outros tempos se avizinham?
A urgência por soluções ambientais (naturais, sociais e mentais - Guattari) clama por pessoas e profissionais criativos, cujo pensar-artista se abre a campos lisos - não estriados ou demarcados por normalizações (Deleuze).
O pensamento nômade (Deleuze) na escola, aponta para um modo de vida em que se liberta a criança para que ela viva sem amarras e mordaças, aprendendo para que seja o que há de ser e, com o contentamento que este estado cria, volte feliz para casa, e sonhe e deseje e quem sabe habite um mundo melhor num breve futuro.

(texto criado a partir da leitura de "A captura da diferença nos espaços escolares" Guillermo Ríos)

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