terça-feira, 22 de agosto de 2017

Opinião sobre tudo

Revisitando esta leitura do Larrosa sobre a Experiência, lembrei de uma outra obra, que li há algum tempo. Trata-se de Uma Breve História do Tempo, do famoso astrofísico Stephen Hawking.
Ao longo do livro, a autor discute profundamente questões relativas ao universo e os esquemas que criamos para entendê-lo. Mas é sobre as passagens finais do texto que quero falar aqui, dialogando com as ideias expostas pelo Larrosa.
Tendo explicado uma série de dados sobre o universo, Hawking inicia uma discussão mais filosófica no capítulo 8. Refletindo sobre o princípio antrópico, discute a configuração do universo e sua relação com seres vivos que podem refletir sobre tal configuração. O faz, no entanto, ignorando o poder da palavra. Em dado momento, diz o seguinte:
“Why is the universe the way we see it?" The answer is then simple: if it had been different, we would not be here!
Antes de dar minha interpretação para a pergunta proposta pelo autor, sigo apresentando sua obra. O penúltimo parágrafo do livro diz exatamente o seguinte:
Up to now, most scientists have been too occupied with the development of new theories that describe what the universe is to ask the question why. On the other hand, the people whose business it is to ask why, the philosophers, have not been able to keep up with the advance of scientific theories. In the eighteenth century, philosophers considered the whole of human knowledge, including science, to be their field and discussed questions such as: did the universe have a beginning? However, in the nineteenth and twentieth centuries, science became too technical and mathematical for the philosophers, or anyone else except a few specialists. Philosophers reduced the scope of their inquiries so much that Wittgenstein, the most famous philosopher of this century, said, “The sole remaining task for philosophy is the analysis of language.” What a comedown from the great tradition of philosophy from Aristotle to Kant!
Ora, meu caro amigo astrofísico! Que visão mais simplista! E quanto sentimento de superioridade no simples domínio da linguagem matemática!
Tivesse Hawking lido e experienciado o texto de Larrosa, talvez, não teria feito uma leitura tão superficial da afirmação de Wittgenstein. A missão da filosofia é analisar as palavras justamente por que são elas que organizam nosso mundo! Universos observáveis não são como são porque de outra forma não estaríamos aqui. São como são porque é assim que os produzimos! É como diz Larrosa: a experiência não é o que se passa. É o que NOS passa.
Quando fazemos coisas com as palavras, do que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como correlacionamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos.
Portanto, proponho uma resposta mais fundamentada na experiência para a pergunta: "Por que o universo é como o vemos?":
O universo é como o vemos porque nossa cultura, em suas múltiplas formas de linguagem, organizou-o assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário